Padrão de D. João I ou Padrão de São Lázaro
O Padrão de D. João I, na rua do mesmo nome, está situado junto da Capela de São Lázaro, onde existiu um lazareto ou gafaria, motivo pelo qual é por vezes invocado como Padrão de São Lázaro. O monumento teria sido erguido em comemoração da vitória na Batalha de Aljubarrota, ou ainda, segundo versões menos plausíveis, pelo sucesso bastante posterior na tomada de Ceuta. De acordo com alguns autores, D. João I entrou em Guimarães ainda em 1386, imediatamente após o retorno de Aljubarrota, vindo de Lamego (GUIMARÃES, Alfredo, 1953); chegado à vila, rezam as crónicas que o monarca, descalço e rodeado pelo seu séquito, terá realizado uma romagem para cumprir o voto feito a Santa Maria de Guimarães, imagem venerada nas vésperas da contenda, em cuja colegiada entregou parte de sua armadura de combate e alguns valiosos despojos tomados ao inimigo, incluindo um cordão em oiro com comprimento igual à distância que separa o padrão então erguido do já existente Padrão do Salado, também destinado a celebrar uma vitória militar sobre os Castelhanos, e término da peregrinação régia. Nesse mesmo ano, ou no ano seguinte, começar-se-ia a levantar o novo padrão, a par das obras da colegiada de Guimarães, então encetadas, e destinadas a remodelar o importante centro de peregrinação que representava a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira. As obras da colegiadas estão atribuídas ao mestre de pedraria João Garcia de Toledo, antigo vedor das obras do reinado de D. Fernando, e em cuja órbita talvez se pudesse igualmente localizar a obra do padrão de Aljubarrota. De qualquer forma, não é seguramente o padrão quatrocentista original que podemos admirar hoje ao fundo da rua de D. João I, apesar de não existir qualquer registo conhecido da sua substituição pelo actual, obra formalmente datável da primeira metade do século XVI, e possivelmente elaborada na sequência da confirmação do foral de Guimarães por D. Manuel, em 1517. Está abrigado sob um robusto alpendre quadrangular, composto por um entablamento de estilo dórico, bem adequado ao carácter comemorativo do monumento, apoiado em quatro pilares de fustes lisos, erguidos sobre uma base cujo acesso se faz por degraus deitando para a rua. O cruzeiro consta de um calvário sobre o qual se levanta o crucifixo, com braços oitavados e faces decoradas com motivos proto-renascentistas, sendo as terminações do braço horizontal rematadas por gordos cogulhos vegetalistas de cariz tardo-gótico. Uma das faces da cruz ostenta a figura de Cristo sob baldaquino, e a outra uma Pietá, ou Nossa Senhora da Piedade, invocação relacionada com algumas lendas pitorescas de Guimarães, e particularmente cara a toda a espiritualidade medieval, até à primeira metade de Quinhentos: o ciclo da Paixão da Virgem, oferecido como tema de contemplação a par da Paixão de Cristo. A relação entre este cruzeiro e o do Salado é ainda reforçada pela iconografia, sendo de realçar que ambos estão inseridos em monumentais alpendres, reforçando a sua presença como marcos urbanos e símbolos da cidade. Ainda no caso do Padrão de D. João I, note-se que o citado alpendre é já obra plenamente renascentista, se não mesmo mais tardia; para além da utilização algo erudita da ordem dórica, veja-se o interior desta curiosa micro-arquitectura, semelhante a um tempietto clássico, mas de feição sobretudo civil e militar, com cúpula lisa, e trompas de ângulo compostas por grandes vieiras. SML
Data: 29 August 2012, 09:54
Autor: Vitor Oliveira from Torres Vedras, PORTUGAL
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