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Cruzeiro de São Manços

A 20 Km de Évora, a pequena aldeia de São Manços evoca a figura lendária do primeiro bispo de Évora e um dos Apóstolos da Lusitânia. Ao que tudo indica, aqui existiu uma propriedade associada a esta importante figura do Cristianismo inicial peninsular, lugar de peregrinação regional durante toda a Alta Idade Média, até à trasladação das suas relíquias para o mosteiro de Sahagún, em Espanha. No século XI, o texto conhecido como Passion de San Mancio dá conta de existência de um templo com baptistério e martirium. Curiosamente, a capela-mor da actual igreja, de planta quadrangular e construída com grandes silhares bem aparelhados, é a parte mais antiga e pode datar desse passado altimedieval. Segundo uns, de época visigótica; de acordo com outros, obra moçárabe, impõe-se como um dos mais importantes vestígios medievais do aro de Évora. No final da Idade Média, a aldeia era pertença da Catedral eborense, com o estatuto de herdade rural, ou quinta, datando, dessa altura, a reforma tardo-gótica do templo mas que, infelizmente, se perdeu nas profundas alterações verificadas na época moderna. Uma pia baptismal, com decoração animalista, e um reutilizado capitel, são os elementos que restam desse período. Provenientes da igreja de São Francisco de Évora, aqui existiam quatro tábuas atribuídas a Francisco Henriques, datáveis dos inícios do século XVI e actualmente na Casa dos Patudos, em Alpiarça, para onde transitaram em 1921. Data de finais do século XVI e inícios do século XVII a principal campanha remodeladora, responsável pela feição que o conjunto hoje ostenta. Sob o governo ibérico de Filipe I, em 1591, foi possível restituir à aldeia as relíquias do seu santo mártir, processo consumado a 20 de Maio de 1624, "com soleníssima pompa e procissão" (ESPANCA, 1966, p.374). Entre estas duas balizas cronológicas deve situar-se a campanha mencionada. A fachada principal é o elemento de maior monumentalidade e cenografismo, não obstante a modéstia das suas partes mais altas. No piso térreo, um narthex de tripla arcada (orientada a Ocidente, Norte e Sul), construído em cantaria e com vãos abatidos contrasta flagrantemente com os registos superiores. Aqui, duas torres quadrangulares pretenderam conferir maior monumentalidade ao monumento, através de uma fachada harmónica, mas a sua pouca altura e, principalmente, a sua reduzida secção planimétrica invalidaram esta pretensão. O interior reforça a singeleza do projecto. De nave única coberta por madeira e capela-mor diminuta, revestida de azulejos tipo tapete, de fábrica lisboeta dos meados do século XVII (ESPANCA, 1966, p.375), apresenta um figurino comum à esmagadora maioria das igrejas do reino, fiel a um dispositivo arquitectónico e espacial conotado com o estilo chão. O recheio artístico é estilisticamente heterogéneo. Os dois retábulos laterais, abertos nas paredes da nave, parecem ser contemporâneos da reforma seiscentista, apesar de se encontrarem cobertos por uma pintura claramente posterior. A ladear o arco triunfal, outros dois retábulos, datados do século XVIII e em estilo rococó. Ainda no interior, destaca-se a imagem de São Manços, tutelar do templo, obra barroca dos inícios do século XVII e contemporânea da reforma moderna. Em 1962, por iniciativa do então pároco, a igreja foi objecto de um restauro selectivo, que comprometeu algumas peças de mobiliário litúrgico e de património integrado. Mais recentemente, uma intervenção arqueológica de emergência possibilitou a identificação de numeroso material romano, que veio provar a ocupação cristã do local sobre uma anterior villa, bem como a continuidade cronológica pela Alta Idade Média. PAF

Data: 27 de junho de 2012, 18:35

Autor: Vitor Oliveira from Torres Vedras, PORTUGAL

Copyright: https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/deed.en

Link origem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Igreja_e_Cruzeiro_de_S%C3%A3o_Man%C3%A7os_-_Portugal_(7457179558).jpg