Capela da Boa Nova ou Capela de Nossa Senhora da Boa Nova ou Santuário de Nossa Senhora da Assunção da Boa Nova
Apesar das múltiplas dúvidas que se colocam a respeito da origem, construção e funcionalidade da igreja da Boa Nova de Terena, está para além de qualquer dúvida o estatuto desta obra como uma das mais importantes de quantas se realizaram em Portugal durante o século XIV. Com o grande monumento de Flor da Rosa e, parcialmente, com a fase gótica da igreja de Vera Cruz de Marmelar, a Boa Nova integra a tipologia de "igrejas-fortalezas", categoria histórico-artística que pretende diferenciar entre as construções religiosas fortificadas (como Leça do Balio) e as verdadeiras fortalezas, cuja planimetria, volumetria e espacialidade obedece, em tudo, a pressupostos militares (CHICÓ, 1954, p.115).O edifício que chegou até aos nossos dias data da primeira metade do século XIV - eventualmente do reinado de D. Afonso IV (DIAS, 1994, p.117) -, mas é de supor que tenha existido um outro, anterior, referido nas Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio, e provavelmente edificado para igreja matriz da povoação de Terena (BRANCO, 1957, pp.12-14). Desconhece-se, todavia, qual a "data de fundação" do actual templo " e o respectivo fundador" (RODRIGUES e PEREIRA, 1986, p.85), factos que impedem uma mais rigorosa contextualização do projecto. O aspecto militar do conjunto e as múltiplas analogias para com a vizinha igreja de Flor da Rosa admitem a interpretação de a empreitada ter sido levado a cabo "dentro de uma ordem militar-religiosa, instituída em território a repovoar e com cunho defensivo acentuado" (IDEM, p.85).As características militares do templo são bem visíveis pelo exterior, que parece uma verdadeira fortaleza. De planta em cruz grega, as quatro fachadas têm o mesmo aspecto e nelas se incluem alguns elementos típicos da arquitectura militar, como matacães sobre as três portas, a existência de estreitas frestas em vez de janelas, a utilização de merlões a toda a volta do edifício, com acesso por caminho de ronda, etc. No interior, manteve-se a mesma preocupação em transformar o templo numa verdadeira fortaleza. Já causou alguma estranheza a excessiva largura da nave e do transepto, disposição que se justifica pela fácil mobilidade de forças defensivas em caso de ataque de alguma destas partes do edifício (BRANCO, 1957, p.6). Nas abóbadas, foram rasgados alçapões para permitir a defesa do interior através dos telhados, em caso de invasão da igreja.De um ponto de vista artístico, não se pode separar a obra de Terena da de Flor da Rosa, proximidade que levou Jorge RODRIGUES e Paulo PEREIRA, 1986, p.86, a equacionar a acção da "mão, senão do mesmo mestre, da mesma "escola" de canteiros artífices" que trabalhou em Flor da Rosa, visivelmente "mais apta a levantar robustos panos de muralha e altas torres". As analogias entre as duas igrejas manifestam-se também em outros aspectos, como os capitéis, muito rudimentares e com "crochets de estilo simplificado" (IDEM, p.85), sinal inequívoco das mais imediatas preocupações com a estrutura arquitectónica.Na época moderna, a igreja foi alvo de beneficiações diversas, que incidiram preferentemente sobre o mobiliário litúrgico e devocional. No século XVI foi acrescentado o retábulo maneirista, de estrutura tripartida, e as pinturas murais da abóbada (alusivas ao Apocalipse de São João e a diversos reis da primeira dinastia). Por volta de 1700 temos notícia de novas obras, onde se inclui o campanário de sineira única que coroa o alçado principal e os dois retábulos laterais. Sujeita a um processo de restauro em 1947, foi de novo intervencionada nos anos 70 e 80 do século XX, campanhas consolidadoras que, felizmente, não desvirtuaram significativamente o aspecto original trecentista do conjunto.PAFwww.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel...
Data: 9 de junho de 2016, 09:00
Autor: Vitor Oliveira
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