Castelo de Alfaiates
Alfaiates é um dos locais obrigatórios nos percursos da Terra de Riba-Côa, região constantemente disputada pelos primeiros monarcas portugueses aos seus congéneres leoneses.A primeira fortaleza da vila é, mesmo, de origem leonesa e dataria do século XII, ou já XIII, assumindo, então, a designação de "Castillo de la Luna". Dela, infelizmente, nenhum vestígio material chegou aos nossos dias; sabemos apenas que se situava no meio da vila, junto à actual Igreja da Misericórdia (como nos indicou Brás Garcia de Mascarenhas, séculos mais tarde), zona elevada e mais propícia à construção de um castelo medieval. Seria, com certeza, uma fortaleza pouco mais que rudimentar, eventualmente composta por uma torre dominante e um amuralhamento incipiente, de carácter proto-românico, mais ajustado a uma função de vigia e de refúgio da população circundante.A passagem das terras de Riba-Côa para a posse portuguesa, formalmente consumada no Tratado de Alcanices de 1297, terá determinado uma reforma do castelo. A tradição local ainda atribui a D. Dinis a sua fundação, mas a verdade é que, também dessa eventual estrutura, nada sabemos. Com grande probabilidade, as obras então patrocinadas tiveram como objectivo a reforma do velho castelo leonês, dotando-o de um eficaz sistema de muralhas e, quem sabe, de outra configuração da provável torre de menagem. Em todo o caso, terá sido uma campanha pontual, não muito onerosa e relativamente modesta, uma vez que, dois séculos depois, a fortaleza foi objecto de uma radical reformulação.Com efeito, no reinado de D. Manuel, o sistema militar de Alfaiates foi completamente alterado. Este monarca tentou revitalizar a povoação, conferindo-lhe sucessivos privilégios e aí instituindo um couto de homiziados. Paralelamente, mandou edificar um castelo de raiz, como se depreende de um diploma de 1510: "mandemos fazer forteleza na dicta vila de Alfaiates" (GOMES, 1996, p.111).O projecto então levado a cabo foi um dos mais importantes da Beira Interior no período manuelino. As obras decorreram com relativa lentidão, uma vez que, ainda em 1525, Diogo de Arruda visitava o castelo para vistoriar o andamento dos trabalhos. O local escolhido rompeu com a tradição de arquitectura militar local, na medida em que, em vez de reocupar e actualizar o velho castelo do centro da vila, preferiu um local ermo, a algumas dezenas de metros da localidade. Nestas condições, construiu-se um castelo moderno, inteiramente virado para a guerra de artilharia. A sua planta é característica dos inícios do século XVI, "com forma geométrica de um quadrilátero com torre quadrangular no vértice fronteiro à vila". Por outro lado, a fortaleza foi "rodeada de um muro de aparelho irregular" que integrava "torreões circulares em três ângulos" (GOMES, 1996, p.111).Produto do racionalismo dos alvores da modernidade, o castelo de dupla muralha de Alfaiates não pode deixar de ser associado à propaganda régia manuelina, que dotou alguns dos mais importantes locais do reino com as suas marcas estéticas e simbólicas. A entrada principal, em corpo saliente da linha de muralhas, integra esses emblemas manuelinos, numa composição escultórica que encima a entrada e que se compõe de uma coroa régia ao centro, ladeada por duas esferas armilares e duas cruzes da Ordem de Cristo.A última campanha edificadora do conjunto militar teve lugar no século XVII. Nessa altura, o castelo manuelino era dos mais eficazes de toda a Beira Interior, e decidiu-se, então, complementar este dispositivo com umas novas muralhas, integrando baluartes e cortinas verticais, que assegurassem a defesa da vila. No entanto, este grande projecto nunca chegou a ser concluído, fruto do crescente abandono da localidade ou, mais propriamente, da mudança dinástica, que conferiu à Península um governo único. Nas guerras napoleónicas, Alfaiates desempenhou ainda um papel importante, mas a extinção do concelho e o crescente despovoamento determinaram o abandono do castelo.PAF www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimo...See where this picture was taken. [?]
Data: 7 de janeiro de 2014, 09:07
Autor: Vitor Oliveira
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