Castelo de Numão
O “Castelo de Numão” localiza-se na freguesia e vila de Numão, concelho de Vila Nova de Foz Côa, distrito da Guarda, em Portugal.Situado na vertente leste da serra da Lapa, inscreve-se atualmente no Parque Arqueológico do Vale do Côa. De seus muros avista-se para leste, do vale da Ribeira de Teja até São João da Pesqueira, e os castelos de Ansiães, Castelo Melhor, Castelo Rodrigo, Ranhados e Penedono. Não deve ser confundido com o sítio arqueológico de “Castelo de Freixo de Numão”, um antigo castro na região.HistóriaAntecedentesA primitiva ocupação humana de seu sítio remonta ao Calcolítico e à Idade do Bronze, conforme vestígios arqueológicos. Alguns autores pretendem que o local tenha-se constituído em ponto de relativa importância durante o período romano, embora sem evidências nesse sentido conforme as campanhas arqueológicas levadas a cabo no recinto medieval.O castelo medievalAcredita-se que a primitiva feição do castelo remonte à época da Reconquista cristã, no início do século X, quando a região foi conquistada por Rodrigo Tedoniz, marido de Leodegúndia (irmã de Mumadona Dias) com quem gerou D. Flâmula (ou Chamoa Rodrigues). Posteriormente, em 998 da Era Hispânica (960 da Era Cristã), Chamoa Rodrigues, achando-se gravemente enferma em Lalim, fez-se conduzir ao Mosteiro de Guimarães, instituindo como testamenteira a sua tia Mumadona, com o encargo de dispor de seus bens para fins de beneficência. Entre eles, incluía-se uma série de castelos e respectivas gentes (“penellas et populaturas”) na fronteira da Beira Alta, entre os quais este, referido como “Nauman”:“(…) nostros castellos id est Trancoso, Moraria, Longobria, Nauman, Vacinata, Amindula, Pena de Dono, Alcobria, Seniorzelli, Caria, cum alias penellas et populaturas que sunt in ipsa stremadura (…).” (Portugalia Monumenta Henricina, Diplomata et Chartae, 81, Lisboa, 1867; Vimaranis Monumenta Historica, 11, Guimarães, 1929-1931.)A região foi conquistada em 997 pelas forças de Almançor (938-1002). Em 1030 terá sido arrasada pelos irmãos Tedom e Rausendo Ramires, ficando despovoada, vindo ser definitivamente reconquistada quando, entre 1055 e 1057, Fernando I de Leão (1037-1065) dela expulsou os Muçulmanos. Pouco depois, o inventário dos bens do Mosteiro de Guimarães, no ano de 1059 relaciona o Castelo de Numão.Integrante do Condado Portucalense, no alvorecer da nacionalidade, em 1128 recebeu o primeiro foral. Posteriormente, contexto da afirmação da nacionalidade, D. Afonso Henriques, futuro Afonso I de Portugal (1143-1185), em 1130 doou os domínios de Numão a Fernão Mendes de Bragança II, "tenens" da Terra de Chaves e senhor de Bragança, seu cunhado por casamento com a sua irmã, a infanta D. Sancha Henriques. Este nobre concedeu foral à povoação, então referida como “Civitate Noman” (8 de julho de 1130), conforme o modelo do de Salamanca, e promoveu a edificação ou reedificação do antigo castelo. Observe-se que o território do concelho à época englobava quase todas as freguesias do atual concelho de Vila Nova de Foz Côa. Em 1148 a administração eclesiástica da povoação pela diocese de Braga foi confirmada pelo Papa Eugénio II.Sob o reinado de Sancho I de Portugal (1185-1211) foram concluídas obras de recuperação das muralhas e erguida a torre de menagem, conforme inscrição epigráfica (hoje desaparecida) datada de 1189.Sob o reinado de Sancho II de Portugal (1223-1248), os domínios de Numão e seu castelo foram doados temporariamente a Abril Peres de Lumiares. Em 1247, era “tenens” da Terra, D. Afonso Lopes de Baião, a quem, como representante régio, competia exercer funções de caráter administrativo e militar.Afonso III de Portugal (1248-1279) confirmou o foral à vila (outubro de 1265). Uma nova etapa construtiva nas suas defesas, entretanto, só terá tido lugar a partir da confirmação deste diploma por Dinis I de Portugal (1279-1325), em 27 de outubro de 1285. Neste período, o soberano doou o padroado da Igreja de Santa Maria e das suas anexas ao bispado de Lamego (1302).Durante o século XIV, Numão desfrutou de alguma importância, certamente motivada pela posição estratégica face ao rio Douro e à recentemente consolidada fronteira com Leão.Sob o reinado de Fernando I de Portugal (1367-1383), em 1373 era alcaide-mor de Numão Vasco Fernandes Coutinho, de Marialva, um dos homens mais poderosos das Beiras. Este cargo permaneceu em mãos desta família até ao reinado de João III de Portugal (1521-1557), na pessoa de D. Francisco Coutinho, 4.° conde de Marialva.Quando da crise de sucessão de 1383-1385, Numão tomou o partido por Beatriz de Portugal, juntamente com as vilas e castelos vizinhos de Castelo Rodrigo, Penedono, Pinhel, Sabugal, e Trancoso. Recorde-se que será pela Guarda que as forças de João I de Castela invadirão Portugal em fins de dezembro de 1383.De acordo com o “Rol de Besteiros do Conto” (1421-1422), no reinado de João I de Portugal (1385-1433) o julgado de Numão era obrigado a contribuir com 12 besteiros.Sob o curto reinado de Duarte I de Portugal (1433-1438) aqui foi instituído um couto de homiziados (1436), o que parece indicar alguma dificuldade com o seu povoamento à época.Manuel I de Portugal (1495-1521) outorgou o “Foral Novo” à vila (25 de agosto de 1512) que, à época, era Comenda da Ordem de Cristo. O Cadastro da População do Reino, em 1527, mostra que a vila de Numão contava com apenas 15 fogos intra-muros, e mais 41 nos arrabaldes.Com a extinção da família dos Coutinho por falta de descendentes (1534), a povoação e seu castelo tiveram o seu processo de decadência acentuado: em abril de 1568 o alcaide-mor, Diogo Cardoso, habitava em Freixo de Numão, o que atesta a decadência da povoação. Dois séculos mais tarde a povoação mudava-se para novo local, no sopé do monte até que, no século XVII, foi integrada no concelho de Freixo de Numão.No século XVIII registava-se a progressiva ruína do castelo, e a cerca muralhada da povoação possuía 15 torres. É possível que Numão tenha sido afetada pelo terramoto de 1 de novembro de 1755, dadas as várias datas oitocentistas inscritas nas paredes da Igreja Matriz. As “Memórias Paroquiais” (1758) sobre Numão referem que se encontra no termo de Freixo de Numão, computando-lhe 134 fogos; na mesma fonte, a 20 de junho, o pároco de Freixo de Numão, António Vaz Dias, refere que a povoação integrava o termo de Freixo de Numão, com 80 vizinhos.Sobre a defesa, ao final desse século Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo (O.F.M.) referiu:“O seu antiquíssimo castelo se acha, pela maior parte arruinado. Saindo dele para a vila pela porta, que fica ao Poente, se vê uma pedra inscrita no muro, e à mão direita (...).” (SANTA ROSA DE VITERBO, 1798-1799)O castelo encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de junho de 1910, publicado no Diário do Governo n. 136, de 23 de junho, embora incorretamente designado no diploma como “Castelo de Freixo de Numão”.O imóvel foi afeto à Junta de Freguesia por decreto ministerial de 17 de fevereiro de 1940.A intervenção do poder público fez-se sentir de 1944 a 1950, através da ação da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), quando foram procedidos trabalhos de consolidação e limpeza, reconstrução de muralhas, desentulhamento da cisterna e recuperação da torre de menagem. Novas campanhas de obras tiveram lugar em 1973-1974, devido ao desmoronamento de um troço a norte das muralhas, e em 1984, com a reconstrução de dois panos de muralha na zona sudeste e reparações diversas.No início do século XXI, a Câmara Municipal fez instalar iluminação cénica, com o apoio de fundos comunitários, valorizando o monumento.O imóvel encontra-se afeto à DRCNorte pela Portaria n. 829/2009, publicada no Diário da República, 2.ª série, n. 163 de 24 de agosto de 2009.CaracterísticasExemplar de arquitetura militar, em estilo gótico, de enquadramento rural, isolado, num cabeço muito declivoso e desnivelado, na encosta leste da serra da Lapa, a cerca de 677 metros acima do nível do mar, na margem sul da foz da Ribeira da Teja, afluente do rio Douro.Apresenta planta oval irregular (orgânica) como foi habitual no programa urbanístico das chamadas "vilas novas" de Trás-os-Montes e Alto Douro, ocupando uma área de 336 hectares. As muralhas, ameadas em um pequeno trecho, são reforçadas por torres (primitivamente quinze, atualmente seis), as que se erguem a nordeste e a leste adossadas pelo exterior.Nas muralhas rasgam-se quatro portas:• A Porta de São Pedro, a leste, guarnecida por uma torre, apresenta arco apontado, com cobertura em abóbada de berço ligeiramente apontada;• A Porta do Poente, a oeste, de figura semelhante;• A Porta Falsa (poterna) a sudeste, em arco quebrado; e• A porta principal, a sul, abrindo apenas até às impostas do arranque do arco, defendida por torres.A Torre de Menagem, a nordeste, apresenta planta quadrada, em cantaria de granito aparente, rematada por cornija com cachorrada apresentando decoração geométrica. A fachada virada a leste é cega no primeiro registo, tendo, no segundo, duas frestas altas em arco pleno; as fachadas viradas a sul e a oeste são idênticas, cegas no primeiro registo, tendo, no segundo, fresta em arco de volta perfeita; a fachada norte tem, no primeiro registo, porta de verga reta e umbrais curvos, surgindo, no segundo, fresta em arco de volta perfeita. Em seu interior não apresenta marcação de pisos e cobertura. Gravada no único silhar coevo da antiga torre (os que atualmente se observam são do período da reconstrução encontra-se a inscrição: “INCEPIT TVRREM IN ERA MCCXXVII” (correspondente ao ano de 1189 da Era Cristã).A Torre Norte apresenta de planta retangular, algo arruinada, apresenta porta virada a sul e acesso pelo adarve.A Torre da Vaca, a oeste, apresenta planta quadrada, percorrida por embasamento escalonado, tendo, na fachada norte seteira no segundo registo, com remate em merlões cúbicos de alvenaria; a fachada leste ostenta seteira no segundo registo e a sul porta de verga reta com arco de descarga quebrado ao nível do adarve, sendo a fachada oeste cega.As torres sul e nordeste, e a denominada Torre Larga, são de planta quadrada, cegas e vãs.Ao centro da praça de armas abre-se uma cisterna de planta circular, com cerca de sete metros de diâmetro, sem cobertura.No interior, junto à porta principal, observam-se as ruínas da Igreja de Santa Maria do Castelo (em estilo românico, de planta longitudinal com portais em arco quebrado, cachorrada com decoração geométrica e arco triunfal quebrado com impostas decoradas com meias esferas) e o cemitério.Na encosta leste, extramuros, junto à Porta de São Pedro e onde existiu um templo homónimo, observa-se uma necrópole com cerca de 10 sepulturas antropomórficas escavadas na rocha, popularmente denominada como “Cemitério dos Mouros”. A Igreja de São Pedro de Numão, templo de raiz pré-românica, tem vindo a ser escavada arqueologicamente desde 1995.fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=18...
Data: 12 de setembro de 2020, 08:24
Autor: Vitor Oliveira
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