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Museu Nacional do Azulejo

Tiles Museum, Xabregas, Lisbon, PortugalBiography (In CAM)Antes de ingressar na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa no ano de 1949, Manuel Cargaleiro tinha sido estudante de Ciências Geográficas e Naturais na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, durante três anos. As suas primeiras pinturas abstractas, intituladas Microscopic Compositions, surgiram da observação dos tecidos vegetais que o microscópio reproduzia. Nesse mesmo ano, participou no Primeiro Salão de Cerâmica, organizado por António Ferro, director do Secretariado Nacional da Propaganda e, em 1950, organizou o Primeiro Salão de Artes Plásticas da Caparica. Dois anos depois, a sua primeira exposição individual teve lugar no Secretariado Nacional de Informação, em Lisboa.O ano de 1954 testemunharia acontecimentos marcantes na carreira artística de Manuel Cargaleiro. Enquanto dava aulas de Cerâmica na Escola Secundária António Arroio, surgiu a oportunidade de expor as suas peças na Galeria de Março em Lisboa ? local onde, no mesmo ano, apresentou as suas primeiras pinturas a óleo, no Primeiro Salão de Arte Abstracta ? viajou pela primeira vez a Paris e ganhou o Prémio Nacional de Cerâmica.A sua obra, fortemente inspirada no azulejo tradicional português, seria também influenciada pelo pintor e ceramista Lino António. A eficaz combinação do azul e do branco e a evocação espacial e arquitectónica converteriam o azulejo no veículo de expressão ideal para Manuel Cargaleiro. Por outro lado, a persistência do abstraccionismo na arte parisiense, desde os anos 40, estimulou o artista na descoberta das potencialidades de uma linguagem tendencialmente não-figurativa. Enquanto o racionalismo e a sobriedade da arte francesa têm norteado a estrutura da sua obra, a pintura e a cor têm proporcionado a sua posterior libertação. Da pintura advém o poder poético, possibilitado pelas harmonias cromáticas e cadências de traço, pelas impressões sensitivas e pela fragmentação formal. O sentido lírico parte frequentemente da natureza: o confessado ?apego à terra? tornou o mundo rural português uma constante fonte de inspiração.Em 1955, Manuel Cargaleiro foi agraciado com o Diploma de Honra da Academia Internacional de Cerâmica, no Festival Internacional de Cerâmica de Cannes. No ano seguinte, ver-se-ia envolvido em diversos projectos: ganhou o primeiro prémio no concurso para o projecto (não realizado) da cobertura cerâmica dos edifícios da Cidade Universitária em Lisboa e foi-lhe solicitada a concepção de painéis de azulejo para o Jardim Municipal de Almada e para a fachada da Igreja de Moscavide. Em 1957 e 1958, receberia duas bolsas de estudo na área da cerâmica, respectivamente em Faenza e em Gien, tendo a segunda sido proporcionada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Entretanto, fixou residência definitiva em Paris, onde vive actualmente.Entre 1959 e 1970, ocorreriam diversas exposições individuais, designadamente em Lisboa, em Paris, no Brasil, em Tóquio e no Porto, entre outras cidades; o artista participaria também em eventos colectivos em Ostende, Almada, Genebra, Rio de Janeiro, Osaka, Seul e no Porto, entre outras. Neste período, o trabalho de Cargaleiro adquiriu a consistência que tem caracterizado o seu percurso artístico. A expressividade lírica da sua obra motivou a colaboração com poetas, nomeadamente Armand Guibert e Victor Ferreira, cujos poemas foram ilustrados pelo artista, ou Alberto Lacerda, que escreveu a compilação ?Manuel Cargaleiro?.Na década de 1970, a arte de Cargaleiro seria mostrada em numerosas exposições individuais, organizadas em Genebra, Milão, Lausanne, Paris, Brasília, Lisboa, Portalegre e Reims, para além de diversas exposições colectivas. Entre 1971 e 1973, o pintor foi convidado pelo Ministério da Cultura francês a conceber painéis cerâmicos para três escolas em França. Em 1974, no âmbito da celebração o 25º aniversário de carreira de três artistas da Beira Baixa, Eugénio de Andrade, José Cardoso Pires e Manuel Cargaleiro, o Jornal do Fundão editou uma medalha esculpida por Lagoa Henriques.Os anos de 1980 testemunharam o pleno reconhecimento de Manuel Cargaleiro, enquanto pintor e ceramista. Contudo, tal não o coibiu de explorar outros ramos criativos, tais como a tapeçaria, cujos padrões geométricos sempre o inspiraram. Em 1980, a Galeria de Arte do Casino Estoril expôs uma série de tapetes confeccionados manualmente, a partir dos seus cartões originais, e foi convidado pelo Governo português a criar o cartão para uma tapeçaria destinada ao novo edifício na Organização Internacional do Trabalho, em Genebra. Entre as várias exposições individuais e colectivas em que participou a nível nacional e internacional, destaca-se a da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1984.A partir da década de 90, predominariam na sua obra os padrões aglomerados e cromaticamente intensos onde ainda seria evocado o azulejo português; no entanto, prevaleceria uma crescente tranquilidade e precisão formal. Em 1990, foi inaugurada a Fundação Manuel Cargaleiro em Castelo Branco e, nos últimos anos, o artista tem vindo a desenvolver as suas ligações com o meio artístico italiano. A obtenção do primeiro prémio do concurso internacional ?Viaggio attraverso la Ceramica? e a sua ligação à localidade de Vietri Sul Mare impulsionaram, em 2004, a criação da Fondazione Museo Artistico Industriale Manuel Cargaleiro, um importante centro de produção e investigação na área da cerâmica, ao qual o artista doou 150 obras.Das construções estruturadas, comummente intituladas ?cidades?, aos gestos expressivos das suas ?flores?, em cada obra, a complexidade da composição é apaziguada pelos jogos de cor, luz e sombra. No trabalho de Manuel Cargaleiro, a cor não é um mero ponto de partida para a exploração das formas, mas sim o culminar de um processo de depuração. IJAgosto de 2011

Data: 28 de maio de 2015, 12:07

Autor: Pedro Ribeiro Simões from Lisboa, Portugal

Copyright: https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/deed.pt

Link origem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:(2011)_-_Manuel_Cargaleiro_(1927)_(18270720101).jpg