Igreja de São Vicente de Fora
Considerada um dos mais impressionantes edifícios lisboetas, a Igreja de São Vicente de Fora ergue-se como uma imagem emblemática do mecenato arquitectónico de Filipe I, depois de ter subido ao trono português.
Instituído por D. Afonso Henriques em 1147, decorrendo do voto feito pelo monarca caso conseguisse conquistar Lisboa, o mosteiro dedicado ao mártir, e entregue aos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, simbolizou na sua essência a refundação cristã da cidade, tornando-se progressivamente uma das mais importantes casas conventuais lisboetas.
Em 1527, D. João III encetou uma profunda reforma no interior da ordem dos Crúzios, que estabelecia uma reformulação das regras de vida monástica, estendendo-se à arquitectura dos complexos conventuais.
No entanto, só no início do reinado de Filipe I foi iniciada a reforma do edifício da igreja e do mosteiro, numa acção em que o monarca "refazia o gesto fundacional de Afonso Henriques, sobretudo como gesto primeiro de um novo dinasta e de um novo mecenas", reforçada pela escolha do templo para panteão real (SOROMENHO, 1994, p. 208).
A autoria da traça do novo mosteiro continua envolta em alguma polémica, embora nos últimos anos seja consensual que as grandes figuras de destaque da reforma vicentina sejam os arquitectos Juan de Herrera e Filipe Terzi.
Se a Herrera, autor do Escorial, são atribuídos os planos do complexo mandados fazer por Filipe I, coincidindo a data dos esboços com os anos de permanência do arquitecto em Lisboa (1580-1583), de Terzi destaca-se o seu contributo nas "traças operativas", ou seja, o seu papel na condução do estaleiro de obras e a influência decisiva do seu trabalho na estrutura final (idem, ibidem, p. 210).
Outra figura de destaque na obra de São Vicente de Fora é, sem dúvida, o arquitecto português Baltazar Álvares, que dirigiu as obras entre 1597 e 1624, e a quem se aponta a composição da fachada (idem, ibidem; SOROMENHO, 1995, p. 379-380). Adaptando a tradição do Maneirismo romano às tradições arquitectónicas portuguesas, o seu modelo constituiu-se como uma das géneses do estilo chão, marcando em definitivo a arquitectura maneirista, em Portugal e em todo o mundo português, durante o século XVII.
De planta longitudinal, o templo vicentino possui nave única, com transepto, capela-mor bastante profunda e retrocoro. Nas paredes laterais da nave "destaca-se a sequência rítmica de pilastras emparelhadas" (idem, ibidem), entre as quais foram rasgadas, em 1608 pequenas capelas, comunicantes entre si. O espaço, cuja iluminação é feita através de janelas termais que se distribuem pelo topo da cabeceira e do transepto, é coberto por abóbada de berço de caixotões, estando estes decorados com diferentes relevos. O cruzeiro da igreja era originalmente rematado por uma cúpula, que ficou totalmente destruída durante o terramoto de 1755.
A fachada apresenta uma composição muito original, de linhas sóbrias e depuradas mas repleta de monumentalidade, como convinha a uma igreja designada panteão-real, na qual se destaca a disposição das duas torres. Estas não são simplesmente justapostas como dois blocos adossados ao frontispício, mas antes plenamente integradas na estrutura, numa tipologia que recria, à luz da tratadística renascentista, a arquitectura medieval portuguesa, alcançando "um equilíbrio perfeito entre a tensão horizontal de um alçado de cinco tramos e a verticalidade sugerida pelos volumes torreados" (idem, ibidem).
Catarina OliveiraDIDA/IGESPAR/28 de Novembro de 2007 www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel...
Data: 7 de agosto de 2014, 09:43
Autor: Vitor Oliveira