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Ponte de São Miguel de Arcos

Ponte de São Miguel de Arcos VILA DO CONDE (Portugal): Ponte de São Miguel de Arcos. Desconhecem-se as origens exactas desta ponte. Em 1136, a povoação dos Arcos já existia e o topónimo não pode ser dissociado de uma primitiva estrutura de passagem que aqui existiu, cuja relevância regional, monumentalidade e, muito provavelmente, antiguidade, conferiu à localidade o seu próprio nome, confundindo-se ambas as realidades. Tal facto assegura que, logo nos inícios do século XII a ponte já existia, mas não conseguimos identificar a época precisa da sua primeira configuração, sendo certo que pode ter pertencido ao período romano, embora nenhum elemento material o sugira. Na Baixa Idade Média, a estrutura integrou o principal caminho do entre-Douro-e-Minho que ligava o Porto à Galiza. “Por ter menos uma légua que a estrada por Braga com o mesmo destino, este parece ter sido, segundo alguns indicadores históricos, o caminho mais seguido para Compostela”, sintomaticamente designado por karraria antiqua ou via veteris. Assim, o caminho até agora identificado ligava a cidade da foz do Douro à ponte sobre o rio Ave e ao Mosteiro da Junqueira. A partir daqui, precisamente pela ponte dos Arcos, o itinerário dirigia-se para Rates, local de um dos mais importantes cenóbios nacionais dos séculos XII e XIII e ponto central na densa malha de caminhos da região, seguindo depois para Barcelos. A vantagem desta estrada não era só sobre a de Braga, mas também em relação a um outro eixo viário ainda incipiente nesta altura (mas de grande sucesso nas épocas moderna e contemporânea), que privilegiava as zonas do litoral. Este caminho, conhecido como da “Beira-Mar”, tinha várias desvantagens, entre as quais o clima mais ventoso, as dificuldades inerentes à passagem sobre as fozes dos rios e a inexistência de verdadeiros centros urbanos, como Braga, Guimarães ou Barcelos. Provada a centralidade de São Miguel dos Arcos no contexto regional em que se insere, importa deixar claro que a estrutura que hoje observamos dificilmente corresponderá à referida em 1136. Muito menos parece ter tido a sua origem em 1144, segundo uma inscrição recente, gravada em silhar das guardas da estrutura, informação eventualmente lendária e transposta para a pedra “por ocasião de alguma reparação executada na ponte”. As suas características construtivas são se afastam do período românico, mas é provável que date já do século XIII, centúria de grande actividade construtiva na área da pontística. Tipologicamente, estamos perante uma estrutura harmónica e simétrica, com um arco maior central ladeado por outros dois, de menores dimensões e idêntico perfil entre si. Os vãos são volta perfeita, compostos por aduelas compridas e estreitas, de extradorso ligeiramente irregular e o arco médio apresenta algumas fissuras entre as aduelas e o núcleo de enchimento. Como sistemas de reforço estrutural existem dois talhamares triangulares a montante, a ladear o arco central, e outros dois a jusante, de secção rectangular. O enchimento é feito com silhares relativamente bem aparelhados, dispostos horizontalmente, apresentando algumas fiadas alguns sinais de desagregação. O tabuleiro é em cavalete de dupla rampa, com acentuado pronunciamento proporcionado pela composição harmónica dos vãos, e é protegido lateralmente por guardas em granito. Em anos recentes, a parte superior da ponte foi alvo de melhoramentos, contando-se o revestimento do pavimento e o prolongamento das guardas com estruturas metálicas e grelha de arame. Antes disso, em 1908, erigiu-se, num dos acessos ao pavimento, um padrão comemorativo dos Viscondes de Faria Machado e um conjunto de alminhas. Classificada desde 1982, tem-se assistido, nos últimos anos, a um progressivo desgaste estrutural, a que a passagem de trânsito rodoviário de ligeiros não é alheio. Para além disso, as margens necessitam de melhor regularização de caudais e a própria ponte é ameaçada por arbustos, cujas raizes penetram fundo na estrutura.

Data: 25 de outubro de 2014

Autor: Vítor Ribeiro

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